Origem

As plantas medicinais vêm sendo utilizadas pelo homem ao longo de toda a história da humanidade no tratamento e cura de enfermidades. É uma prática que nasceu provavelmente na pré-história, quando, a partir da observação do comportamento dos animais na cura de suas feridas e doenças, os homens descobriram as propriedades curativas das plantas e começaram a utilizá-las, levando ao acúmulo de conhecimentos empíricos que foram passados de geração para geração (FERRO, 2006).
Histórico
Os indícios sobre a prática da Fitoterapia são muito
antigos e encontrados em todo o mundo. O primeiro manuscrito conhecido
sobre essa prática é o Papiro de Ebers (1500 a.C.), que descreve
centenas de plantas medicinais. No Egito, várias plantas são mencionadas
nos papiros, e na Grécia, Teofrasto (372-285 a.C.), discípulo de
Aristóteles (384-322 a.C.), catalogou cerca de 500 espécies vegetais.
Hipócrates (460-361 a.C.), considerado o pai da medicina, utilizava
drogas de origem vegetal em seus pacientes e deixou uma obra – Corpus
Hippocraticum, que é considerada a mais clara e completa da Antiguidade
no que se refere à utilização de plantas medicinais (ALMASSY JÚNIOR et
al. 2005; ALONSO, 1998; WAGNER e WISENAUER, 2006).
Durante muito
tempo, as plantas medicinais foram utilizadas em rituais religiosos e na
cura de doentes pelos curandeiros e feiticeiros. O pensamento
hipocrático estabeleceu uma concepção holística do Universo e do homem,
visando o tratamento do indivíduo e não apenas da doença. Já na Idade
Média, a concepção de mundo máquina levou à difamação daqueles que
detinham o conhecimento sobre as plantas medicinais, considerados como
bruxos e condenados à fogueira (ALMASSY JÚNIOR et al. 2005; ALONSO,
1998; ALVIM et al. 2006).
Na Idade Moderna, com o desenvolvimento da
pesquisa e metodologia, as terapêuticas sem base científica, como a
Fitoterapia, foram marginalizadas (ALMASSY JÚNIOR et al. 2005, p.19-22;
ALVIM et al. 2006).
No mundo, a Fitoterapia desenvolveu-se dentro das
Medicinas Chinesa e Ayurvédica. A Fitomedicina na Europa tornou-se uma
forma de tratamento predominante. No Brasil, a terapêutica popular foi
desenvolvida com as contribuições dos negros, indígenas e portugueses
(ALMASSY JÚNIOR et al. 2005; ALVIM et al. 2006; WAGNER e WISENAUER,
2006).
A partir do século XX, o desenvolvimento da indústria
farmacêutica e os processos de produção sintética dos princípios ativos
existentes nas plantas contribuíram para a desvalorização do
conhecimento tradicional (ALMASSY JÚNIOR et al. 2005; ALONSO, 1998;
WAGNER e WISENAUER, 2006).
Ao final da década de 1970, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) cria o Programa de Medicina Tradicional, com
objetivos de proteger e promover a saúde dos povos do mundo,
incentivando a preservação da cultura popular sobre os conhecimentos da
utilização de plantas medicinais e da Medicina Tradicional (BRASIL,
2006; WHO, 2002;)
A OMS recomenda aos estados-membros “o
desenvolvimento de políticas públicas para facilitar a integração da
medicina tradicional e da medicina complementar alternativa nos sistemas
nacionais de atenção à saúde, assim como promover o uso racional dessa
integração” (BRASIL, 2006). Para isso, são necessários promover a
segurança, eficácia, qualidade, acesso e uso racional dessas práticas
(WHO, 2002).
Em 1989 foi fundada a ESCOP (European Scientific
Cooperative on Phytotherapy) – Cooperativa Científica Européia de
Fitoterapia –, com os objetivos de estabelecer critérios harmônicos para
o acesso aos produtos fitoterápicos, dar suporte para a pesquisa
científica e contribuir para a aceitação da Fitoterapia na Europa
(SCHILCHER, 2005).
Em 1978, foi estabelecida a Comissão E, uma
divisão da Agência Federal de Saúde da Alemanha que coleta informações
sobre as plantas medicinais e as avalia de acordo com a segurança e
eficácia. É responsável pelo registro e preparação de fitofármacos,
processa os dados científicos funcionais das preparações das plantas e
ervas medicinais para produzir monografias. A Comissão E combina dados
científicos com conhecimento tradicional, e publicou cerca de 300
monografias (SCHILCHER, 2005; WHO, 1998).
A OMS lançou três volumes
de monografias de plantas medicinais, fruto de uma ampla revisão
sistemática da literatura científica e revisão de especialistas do mundo
inteiro, com objetivos de auxiliar a segurança e efetividade no uso da
Fitoterapia nos sistemas de saúde (WHO, 1999; WHO, 2001; WHO, 2007).
Em
2006, foi criado no Brasil o Programa Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos, com objetivo de “garantir à população brasileira o acesso
seguro e uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo
o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia
produtiva e da indústria nacional” (BRASIL, 2006).
Conceito
A Fitoterapia é uma palavra que une dois radicais gregos: “phyton”, que significa planta, e “therapia”, tratamento. É a terapêutica caracterizada pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal (BRASIL, 2006).
Formas de atuação
As plantas medicinais possuem princípios ativos, ou
seja, compostos químicos produzidos durante o metabolismo da planta, que
lhe conferem a ação terapêutica (WAGNER e WISENAUER, 2006). Há diversas
formas de utilização, que dependem da parte do vegetal a ser utilizada,
do tipo de efeito desejado e da enfermidade a ser tratada (NA).
As
plantas medicinais podem ser utilizadas sob a forma de infusão,
decocção, maceração, tintura, extratos fluido, mole ou seco, pomadas,
cremes, xaropes, inalação, cataplasma, compressa, gargarejo ou bochecho
(WAGNER e WISENAUER, 2006).
Contra-indicações
A utilização de plantas medicinais não é isenta de
efeitos colaterais, interações medicamentosas ou contra-indicações.
Apresentam substâncias que podem ser tóxicas, desencadeando reações
adversas. Além disso, a utilização da dose incorreta, da parte da planta
indevida ou auto-medicação errônea podem causar efeitos colaterais
indesejáveis (TUROLLA e NASCIMENTO, 2006).
São necessárias medidas
de conscientização da população e educação dos profissionais de saúde
para que o uso racional das plantas medicinais seja disseminado. Há
grupos como crianças, idosos, lactantes, gestantes e portadores de
doenças graves que merecem atenção especial e não podem utilizar a
Fitoterapia de maneira indiscriminada, devendo levar em consideração as
dosagens e contra-indicações. Além disso, é importante ressaltar que há
possibilidades de interação medicamentosa entre a Fitoterapia e o uso de
alopáticos, tornando ainda mais necessária a conscientização da
população e o cuidado com a auto-medicação (NA).
Referências
ALMASSY JÚNIOR, Alexandre; LOPES, Reginalda Célia; ARMOND, Cíntia; da SILVA, Francieli; CASALI, Vicente Wagner Dias. Folhas de Chá – plantas medicinais na Terapêutica Humana. UFV: Viçosa, 2005.
ALONSO, Jorge. Tratado de Fitomedicina: Bases clínicas e farmacológicas. Argentina, Rosário: Corpus Libros, 1998.
ALVIM et al. O uso de plantas medicinais como recurso terapêutico: das influências da formação profissional às implicações éticas e legais de sua aplicabilidade como extensão da prática de cuidar realizada pela enfermeira. Rev Latino-am Enfermagem, v.14, n.3, mai./jun. 2006. Disponível em www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em 01.set.2007.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Brasília, DF, 2006b.
FERRO, Degmar. Fitoterapia: conceitos clínicos. São Paulo: Atheneu, 2006.
SCHILCHER, Heinz. Fitoterapia na Pediatria – Guia para médicos e farmacêuticos. Alfenas: Ciência Brasilis, 2005.
TUROLLA, Mônica Silva dos Reis; NASCIMENTO, Elizabeth de Souza. Informações toxicológicas de alguns fitoterápicos utilizados no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 42, n. 2, abr./jun., 2006.
WAGNER, Hildebert e WISENAUER, Markus. Fitoterapia – Fitofármacos, Farmacologia e Aplicações Clínicas. 2.ed. São Paulo: Pharmabooks, 2006.
WHO. Guidelines for the appropriate use of herbal medicines. Manila: WHO, 1998.
______. Who Monographs on Selected Medicinal Plants, v. 1. Geneva: WHO, 1999.
______. Who Monographs on Selected Medicinal Plants, v .2. Geneva: WHO, 2001.
______. Traditional medicine strategy 2002-2005. Geneva, 2002.65p.
______. Who Monographs on Selected Medicinal Plants, v. 3. Geneva: WHO, 2007.
Karina Mendes Parlangelo
Formada em Naturologia pela Universidade Anhembi Morumbi. Pós-graduanda em Fitoterapia pela FACIS
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